Síndrome do Pânico já afeta milhões de brasileiros
Hoje com 70 anos, o militar Caio Gracco Wanderley teve uma vida normal até os 48, quando se aposentou como sub-tenente do Exército. Acostumado a trabalhar muito, especialmente quando chefiava treinamentos, Caio passou a estranhar a calma rotina de sua casa. Casado e pai de seis filhos, o aposentado percebeu os primeiros sinais do que seria diagosticado como Síndrome do Pânico, doença que atinge cerca de quatro milhões de brasileiros, segundo dados da Associação Norte-rio-grandense de Psiquiatria. O drama de Caio começou a partir do momento em que o simples ato de sair de casa para ir à padaria lhe causava desespero. As mãos suavam frio e de multidão ele queria distância. ‘‘Eu sabia que algo estava errado, mas no começo pensava que seria depressão. Então procurei uma psiquiatra que descobriu que era Síndrome do Pânico’’, declarou.
As crises de Caio eram diárias. Uma ida ao banco se transformava em um verdadeiro tormento. Tudo começava no transporte coletivo. Quando precisava ir de ônibus era um sufoco, mas a situação era ainda pior quando o ônibus lotava. ‘‘Eu não gostava de andar de ônibus porque estavam sempre cheios, mas quando andava e o ônibus ficava lotado eu descia antes do ponto sem pensar duas vezes. No banco era outro sacrifício. Se tivesse perto do caixa e a fila fosse aumentando, simplesmente descia e não fazia o que tinha ido resolver’’, disse.
Depois de 13 anos convivendo com a síndrome, Caio resolveu parar com a medicação que tomava diariamente, aos 62 anos, porque sentiu que muitos dos seus antigos medos tinham passado. ‘‘Já saia de casa sem ninguém, entrava no elevador e percebi que ficava sem problema numa fila de banco quando antes eu nem entrava por causa da quantidade de gente. Os exercícios físicos me ajudaram muito a controlar tudo. Por isso resolvi parar com a medicação’’, disse.
O único sintoma que permaneceu com Caio desde que se aposentou foi a insônia. Ele admite ser dependente de um remédio para dormir. ‘‘Como trabalhava muito no Exército fiquei acostumado com os horários de lá. Então como agora estou aposentado necessito mesmo desse remédio porque quando não tomo chego a ficar a noite inteira sem dormir. Mas os medos que tinha foram todos embora e estou curado’’, afirmou.
Sintomas podem confundir médicos
Respiração ofegante, sensação de sufocamento, dormência e taquicardia. Estes são alguns dos sintomas da Síndrome do Pânico, transtorno caracterizado principalmente por uma crise aguda de ansiedade. Como muitas dessas alterações são físicas, a maioria dos pacientes faz uma verdadeira peregrinação nos consultórios médicos até descobrir o diagnóstico exato.
Não é raro, segundo Myrna Chaves, presidente da Associação Norte-riograndense de Psiquiatria, atender pacientes que dizem ter ido às urgências dos hospitais procurar atendimento médico e ter recebido remédios para falta de ar e até mesmo para alterações cardíacas. ‘‘Isso é comum porque os sintomas são físicos, mas não consigo entender como alguns colegas médicos, depois de várias tentativas, nem cogitam que aquele paciente pode ser portador do transtorno’’, disse.
A síndrome não escolhe classe social e aparece subitamente em pessoas calmas, agitadas ou ansiosas. Ela explicou que, normalmente, isso ocorre na fase adulta, entre 25 e 40 anos de idade, e as mulheres são mais propensas a desenvolver o transtorno. ‘‘Ainda não existe nenhum estudo que tenha decifrado o porquê, mas comprovamos no consultório. O número de mulheres com o transtorno é bem maior que o de homens’’, declarou.
Tipos
De acordo com a psiquiatra existem três tipos de síndrome do pânico: espontânea, desencadeadora e com agorafobia. A espontânea é quando os sintomas aparecem subitamente no paciente; a desencadeadora é quando determinadas situações levam o paciente a desenvolver a síndrome. Como, por exemplo, quando uma pessoa tem claustrofobia que é o medo de lugares fechados. Já o transtorno do pânico com agorafobia é quando o paciente fica com tanto medo de ter novamente uma crise e fica sem tem condições de sair de casa.
O tratamento dura aproximadamente seis meses e normalmente é realizado com o uso de medicamentos antidepressivos, psicoterapia, além de técnicas de relaxamento, exercícios respiratórios e exposição aos medos. ‘‘O transtorno é curável. Em alguns casos o paciente recebe alta, mas não podemos garantir que esses medos não vão voltar’’, afirmou a psiquiatra.
O diagnóstico definitivo, segundo Myrna, só pode ser afirmado depois que o paciente enfrentar um mês com inúmeras crises. ‘‘Não podemos diagnosticar um paciente que tenha tido apenas uma crise durante 30 dias. Até mesmo a pessoa que apresenta sintomas físicos, tenha passado por vários especialistas e nada tenha sido detectado deve ter paciência, pois não podemos definir com pressa a Síndrome do Pânico’’, revelou a psiquiatra.
A vida moderna mudou muito nos últimos anos e tem sido um dos principais motivos para a alta incidência da síndrome desde a década de 80. ‘‘O mundo se modernizou bastante. A vida virou uma correria. No Brasil, por exemplo, há 50 anos apenas 30% da população vivia nas cidades grandes, 70% da população era rural. Agora está tudo inverso. Claro que tantas mudanças têm efeitos a médio e longo prazos’’, alertou.
O vice-presidente da Associação Norte-riograndense de Psiquiatria, Jair Farias, afirmou que nos Estados Unidos - onde as pesquisas são realizadas com mais frequência - houve uma aumento significativo de pacientes portadores da Síndrome do Pânico após o atentado de 11 de setembro de 2001. ‘‘As pessoas ficaram com medo de tudo e desenvolveram o transtorno. Agora essa número está diminuindo’’, disse.
Apesar das pesquisas não serem realizadas no Brasil com a mesma frequência dos Estados Unidos, o psiquiatra acredita que entre 2% e 3% dos brasileiros são portadores da síndrome e 30% tem transtorno de ansiedade. ‘‘Três entre dez pessoas têm transtorno de ansiedade leve, médio ou grave. Entretanto, isso não significa que essas pessoas irão desenvolver a Síndrome do Pânico’’, explicou.
Jair acrescentou que os portadores da síndrome sofrem muito até descobrir o verdadeiro diagnóstico. ‘‘É uma situação muito desagradável porque quando as crises aparecem a pessoa sente muitos sintomas físicos e procura um pronto-socorro acreditando que lá está a solução. Naquele instante a medicação receitada na urgência serve como um paliativo. O problema é que as crises começam a aparecer repetidas vezes, então é necessário procurar um especialista no assunto’’, declarou.
fonte,DN ONLINE
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