AVALIAÇÃO NEONATAL
O período neonatal é crítico para a própria sobrevivência do paciente Down.
Frequentemente a Síndrome se associa a diversas anomalias congênitas que
determinam um aumento na morbidade e mortalidade neonatais e nos primeiros
meses de vida.
As mais frequentes são as seguintes:
MALFORMAÇÕES CARDIOVASCULARES
As malformações cardiovasculares são as anomalias congênitas mais frequentes
na Síndrome de Down, afetando 40 a 50% dos pacientes.
As mais comuns são as seguintes:
- Defeitos do septo atrio-ventricular.
- Defeitos do septo ventricular.
- Persistência do ducto arterial.
- Defeitos do septo atrial.
O diagnóstico preciso deve ser realizado através do ecocardiograma. Mesmo
nos pacientes assintomáticos este exame deve ser realizado até o sexto mês
de vida.
A maioria das malformações podem ser cirurgicamente corrigidas, diminuindo
sobremaneira a morbimortalidade.
ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS
Aproximadamente 0,7% dos recém-nascidos Down apresentam hipotireoidismo
congênito, conferindo uma importância maior ao teste de triagem para esta
patologia.
ANOMALIAS GASTROINTESTINAIS
Aproximadamente 12% dos pacientes apresentam anomalias gastrointestinais.
As mais comuns são:
- Atresia de duodeno.
- Pâncreas anular.
- Doença de Hirschsprung.
- Atresia anal.
- Fístula traqueoesofágica.
- Estenose pilórica.
ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS
As mais frequentemente encontradas são:
- Reação leucemóide.
- Policitemia.
- Trombocitopenia.
- Eritroblastose fetal.
- Leucemia neonatal.
PROBLEMAS OFTALMOLÓGICOS
Os mais frequentes são:
- Nistagmo.
- Estrabismo.
- Opacificação de córnea.
Quando presentes deve ser solicitada uma avaliação oftalmológica.
PROBLEMAS OTORRINOLARINGOLÓGICOS
Há uma incidência aumentada de déficit auditivo neuro-sensorial congênito e
nos primeiros meses deve-se estar atento para esta possibilidade.
Pode haver coleções líquidas no ouvido médio em até 15% dos recém-nascidos
que são difíceis de visualizar pelo calibre do conduto auditivo.
ANOMALIAS UROGENITAIS
Além de criptorquia e hipospádia há uma frequência maior de malformações de
rins e ureteres.
DIFICULDADES ALIMENTARES
A amamentação nos primeiros dias pode ser dificultada por problemas
anatômicos e pela hipotonia muscular. Há uma melhora progressiva até a
terceira ou quarta semana de vida.
ROTINA DA AVALIAÇÃO NEONATAL
Sabendo que as anomalias descritas são mais frequentes que na população em
geral, deve-se estar atento aos seguintes aspectos na avaliação neonatal do
paciente Down:
1. CARDÍACA
- Sopro.
- Taquipnéia.
- Cianose.
- Hepatomegalia.
2. OCULAR
- Opacificação de córnea e cristalino.
- Movimentos oculares.
3. AUDITIVA
- Visualizar o tímpano - identificar presença de secreções.
Quando houver dúvidas quanto ao déficit neuro-sensorial solicitar audiometria
de tronco cerebral.
4. TUBO DIGESTIVO
- Eliminação de mecônio.
- Dificuldade de sucção e/ou deglutição.
- Presença de vômitos.
- Presença de sialorréia.
5. TIREÓIDE
- Verificar níveis de T4 e TSH.
- Níveis de fenilalanina plasmática.
6. HEMATOLOGIA
- Hemograma com contagem de plaquetas.
7. OUTRAS MALFORMAÇÕES
- Pesquisar a presença de outras anomalias congênitas.
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO NA INFÂNCIA
A infância é decisiva para que o paciente possa atingir a sua potencialidade.
A prevenção, detecção precoce e tratamento imediato das diversas afecções
intercorrentes vão evitar ou atenuar as complicações limitantes para a vida.
O primeiro ano de vida é especialmente importante. Tomam-se algumas decisões
médicas decisivas para o resto da vida como controle de infecções,
tratamentos auditivos, cirurgia cardíaca. É o período de maior risco de vida
e as cardiopatias representam a principal causa de óbito. É também o ano de
maior velocidade de crescimento e desenvolvimento onde os programas de
estimulação apresentam as melhores respostas.
A avaliação do crescimento e desenvolvimento, pela sua importância, é
apresentada em tópico específico.
Além de observar a evolução de possíveis complicações já detectadas no
período neonatal e de realizar as avaliações periódicas, é preciso estar
atento para os seguintes aspectos:
CARDIOPATIAS
Representam o grupo de afecções mais importante desta fase, especialmente
durante o primeiro ano.
Mesmo que o paciente seja assintomático, deve ser realizado pelo menos um
ecocardiograma nos primeiros 6 meses de vida.
INFECÇÕES
Principalmente as respiratórias, são a segunda causa de óbito no primeiro ano.
São frequentes as rinites, adenoidites, amigdalites, laringites, bronquites,
broncopneumonias, pneumonias e otites. Blefaroconjuntivites e piodermites
também são comuns.
VISÃO
- Estrabismo.
- Erros de refração, especialmente miopia.
- Nistagmo.
- Catarata.
- Obstrução do ducto lacrimal.
AUDIÇÃO
- Defeito funcional da tuba auditiva.
- Hipoacusia.
- Surdez.
TIREÓIDE
- Hipotireoidismo.
- Hipertireoidismo.
SISTEMA OSTEOARTICULAR
A instabilidade atlanto-axial, pela frequência e gravidade dos problemas que
pode determinar (compressões medulares) exige realização rotineira de
avaliação por volta dos três ou quatro anos de idade.
É também comum a luxação do quadril.
DENTIÇÃO
Costuma ser tardia, pode haver falta de alguns dentes, pode haver outros
problemas ortodônticos, tendência a cáries, infecções periodontais.
Em toda consulta, avaliar os cuidados de higiene dentária.
Deve ser estimulada as visitas regulares ao dentista.
NUTRIÇÃO
Quando não há cardiopatia, existe tendência à obesidade.
A criança obesa costuma ser o adulto obeso, sendo importante a prescrição de
uma dieta adequada e exercícios físicos apropriados.
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO NA ADOLESCÊNCIA
A adolescência é a idade dos desafios. Podemos dizer que hoje também para os
pacientes Down isto é verdadeiro. Somos testemunhas em nosso país de uma
geração de adolescentes Down que conquista cada vez espaços maiores.
A profissionalização e integração no mercado de trabalho é uma reivindicação
de familiares. O médico deve procurar se inteirar do que é possível e existe
em seu meio.
No entanto ainda é frequente nesta fase da vida as dificuldades dos pais e
profissionais de saúde em lidarem com os mesmos. Tornam-se mais nítidas as
diferenças entre as expectativas maternas e paternas e a potencialidade do
paciente. Como na população em geral, a adolescência é uma fase onde começam
a se manifestar os problemas emocionais e psiquiátricos.
A observação da evolução de possíveis complicações de fases anteriores da
vida e a realização de avaliações periódicas são extremamente importantes.
Chamam atenção na adolescência:
PUBERERDADE E SEXUALIDADE
A puberdade dos pacientes Down se processa de forma semelhante à dos demais
adolescentes.
Os níveis hormonais também obedecem à mesma ordem.
O ciclo menstrual é semelhante ao das adolescentes sadias e geralmente elas
são férteis (aproximadamente 50% das pacientes).
Há contrvérsias quanto à fertilidade masculina e até hoje existe na
literatura apenas um caso de fertilidade no sexo masculino.
Têm sido relatados casos de puberdade precoce e tardia em associação a
diversas patologias.
Diante da puberdade precoce deve-se pensar na possibilidade de
hipotireoidismo e de doença celíaca na puberdade tardia.
Existem inúmeras questões difíceis e sem respostas nesta área. No entanto,
não é correto negar-lhes a sexualidade.
É importante a convivência com adolescentes do sexo oposto e a permissão para
expressão de sua afetividade e sexualidade. A forma como isto acontecerá vai
depender do paciente e dos costumes da família.
Deve ser realizado o exame pélvico anual nas adolescentes ativas
sexualmente.
ATIVIDADES ESPORTIVAS
Deve ser reavaliada a estabilidade da articulação atlanto-axial caso o
paciente deseje participar de atividades esportivas.
TRABALHO
Este é um desafio atual. Em todo o mundo desenvolvem-se estudos e esforços
para propiciar a integração da pessoa Down no trabalho produtivo.
O estímulo é melhor que o cerceamento. No entanto, deve-se respeitar a
potencialidade individual.
Uma avaliação poderá ajudar na definição das condutas em cada caso.
PROBLEMAS CLÍNICOS MAIS FREQUENTES:
1. INFECÇÕES DE PELE
São comuns as ifecções de pele por estafilococos e a escabiose. A região
perineal, nádegas e coxas são mais frequentemente atingidas.
2. TENDÊNCIA À OBESIDADE
Continua nesta fase da vida a tendência à obesidade demonstrada desde cedo,
mesmo com dietas equilibradas. As atividades esportivas e um rigor maior na
qualidade e quantidade de alimentos ajudam no controle.
3. PROBLEMAS PSICOLÓGICOS E PSIQUIÁTRICOS
Como qualquer outro adolescente podem se tornar anti-sociais, tristes e
deprimidos. Distúrbios psiquiátricos ou de comportamento com padrões de
adulto podem começar na adolescência.
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO NA IDADE ADULTA
A característica mais marcante nesta fase da vida é a tendência ao
envelhecimento precoce. Além dos controles periódicos e da observação
evolutiva das complicações apresentadas nas fases anteriores, deve-se ter
atenção para as seguintes complicações bastante frequentes nesta idade:
- Prolapso de valva mitral.
- Hipotireoidismo.
- Deficiência auditiva.
- Catarata adquirida.
ACOMPANHAMENTO CLÍNICO - AVALIAÇÕES REGULARES
No acompanhamento do paciente Down, além de levar em consideração os aspectos
específicos de cada faixa etária é necessário estar atento para algumas
complicações que podem ocorrer durante toda sua vida.
1. ANOMALIAS CARDIOVASCULARES
As anomalias cardiovasculares são as complicações mais frequentes e
representam problemas significativos durante toda a vida.
Pela sua frequência e ameaça à vida, é particularmente importante no período
neonatal e infância e por isso foram tratadas em mais detalhes nestes tópicos.
No entanto, muitas podem passar assintomáticas durante grande parte da vida e
outras surgem com a idade. Neste último caso se encontra o prolapso mitral.
É necessário também estar atento às possíveis complicações das cardiopatias
já diagosticadas e tratadas clínica ou cirurgicamente.
2. ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS
O risco de disfunção da tireóide aumenta com a idade. Aproximadamente 0,7%
dos recém-nascidos apresentam hipotireoidismo. Esta percentagem é de 12%
entre os adultos.
O hipotireoidismo é tratável com reposição hormonal e seu controle é de
extrema importância para o desenvolvimento normal. A detecção precoce do
mesmo é essencial e deve ser feita laboratorialmente pois é difícil a
identificação precoce dos seus sinais e sintomas que se confundem com alguns
dos sinais e sintomas da Síndrome.
O hipertireoidismo é bem mais raro e pode ser tratado através dos métodos
convencionais.
3. PROBLEMAS OFTALMOLÓGICOS
Inúmeros problemas oftalmológicos afetam estes pacientes. Os mais
significativos são os distúrbios da refração, principalmente a miopia, o
estrabismo e o nistagmo. Mas também são frequentes blefaroconjuntivites,
cataratas e ceratoconus.
Como o seu desenvolvimento é lento e necessita de uma estimulação adequada,
a atenção aos órgãos dos sentidos, que os põe em contato com o mundo, é
crucial. A negligência nestas áreas pode acarretar um comprometimento muito
significativo.
4. PROBLEMAS OTORRINOLARINGOLÓGICOS
Uma das áreas que merece maior atenção do médico é a proteção do aparelho
auditivo. Não só pelas patologias que sediam, mas também pelo papel que a
audição representa na aquisição da linguagem, uma das áreas cruciais em seu
desenvolvimento.
Diversos problemas contribuem para as dificuldades nesta área. Dentre eles
se destacam:
- Orelhas menores.
- Diâmetro reduzido do conduto auditivo externo.
- Infecções respiratórias repetidas e suas sequelas sobre a membrana
timpânica e os ossículos do ouvido médio.
- A hipotonia, contribuindo para a disfunção da trompa de Eustáquio.
- Menor comprimento da cóclea.
- Malformações do sistema vestibular.
5. PROBLEMAS MUSCULOESQUELÉTICOS
Embora sejam muito conhecidas as alterações anatômicas dos ossos do quadril,
principalmente o acétabulo raso e a frouxidão ligamentar, a principal
complicação nesta área é a instabilidade da articulação atlanto-axial
(vértebras C1-C2) que pode ter consequências graves.
Este fato deve ser levado em conta ao liberar estes pacientes para atividades
esportivas e quando for submetê-los à hiperextensão do pescoço durante atos
anestésicos.
6. PROBLEMAS IMUNOLÓGICOS
As infecções continuam sendo uma importante causa de morte nos indivíduos com
Síndrome de Down. Além disso, o risco aumentado para leucemias e doenças
autoimunes sugerem problemas de imunodeficiência nestes pacientes.
7. PROBLEMAS HEMATOLÓGICOS
As leucemias agudas são as doenças mais comuns em pacientes com menos de 15
anos de idade. A sua idade de início é bimodal, com um pico no período
neonatal e outro entre os 3 e 6 anos.
Além disso, os recém-nascidos podem apresentar reação leucemóide transitória
ou leucemia transitória que costumam desaparecer entre um e três meses de
idade.
8. AVALIAÇÕES REGULARES
Deve ser oferecido ao paciente Down o acompanhamento clínico comum a qualquer
pessoa. No entanto, levando em conta os problemas clínicos que costuma
apresentar, a realização de algumas avaliações regulares vêm se consolidando.
A sua aplicação pode ser flexível, levando em conta o paciente e os recursos
disponíveis.
FUNÇÃO TIREOIDIANA (T4 e TSH):
Ao nascimento, com 6 e 12 meses e a partir de então anualmente.
AVALIAÇÃO OFTALMOLÓGICA:
Anual ou bianualmente.
AVALIAÇÃO AUDITIVA:
Anual ou bianualmente. Onde possível, é recomendável nos primeiros meses
realizar audiometria de tronco cerebral.
AVALIAÇÃO CARDIOLÓGICA:
Através de ecocardiograma. Quando surgirem sintomas ou até o sexto mês de
vida quando assintomático.
AVALIAÇÃO DA ARTICULAÇÃO ATLANTO-AXIAL:
Entre os 3 e 4 anos, na adolescência e antes de liberar para práticas
esportivas.
fonte,FACULDADE DE MEDICINA
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